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A quem interessa linchar o senador Demóstenes?

          Hoje, vítima do escarcéu que explode na grande mídia, uma babel de hipócritas em Goiás se apressa em vomitar críticas a Carlinhos Cachoeira. Ele se transformou em um leproso que ninguém deseja tocar para não ser contaminado. De propósito, em uma atitude covarde até os ossos, se esquecem que há poucos dias o homem era digno de frequentar as colunas sociais e saltitava faceiro como celebridade a ser cortejada. Sua charmosa residência era frequentada por socialites, jornalistas, empresários e políticos de todos os matizes.
          Das palmeiras que crescem eretas aos paus tortos do cerrado, todos sabiam que ele controlava empresas que agiam nos limites da lei e era o capo di tutti i capi dos caça níqueis. Mesmo assim (e para alguns principalmente por isso) nunca deixou de receber dignos afagos. Suas festas, as quais nunca fui convidado (segundo consta porque faço parte da lista dos “perigosos”) eram prestigiadíssimas. Muitos dos que hoje jogam pedras faziam questão de serem convidados.
          Generoso, afável e disposto a controlar o maior conjunto de engrenagens dos bons negócios, ele se juntou a classe política. Quantos faziam parte do seu acervo de arranjos ninguém vai descobrir ao certo. Para a maioria o alívio fica na exposição do senador Demóstenes Torres. Ele é que se tornou ícone da lambança. Mesmo sem uma específica acusação, e sem nenhum acesso aos autos para uma legítima defesa, já foi linchado. Bem feito, dirão muitos. Quem mandou se meter com bicheiro e notório contraventor. Forca nele. Que perca o mandato e seja exilado na Venezuela, país onde sequer o presidente tem coragem de fazer radioterapia.
          Fosse apenas isso estava tudo resolvido. Ele seria expulso da vida política e a nação estaria livre de uma figura que representa a gentalha encarquilhada. O problema é que Demóstenes, por mais que tenha errado e mereça o castigo apropriado, está sendo tratado ao estilo William Lynch (americano que preconizou executar sumariamente os suspeitos sem qualquer espécie de julgamento legal) porque ele foi um opositor que deu um trabalho dos diabos.
          Sequer as figuras nefastas que se tornaram símbolo da corrupção, notórios corruptos que até hoje controlam todo um Estado (precisa dizer o nome??) sofreram uma carga tão pesada de censura. A mídia oficial, essa que sobrevive com verbas generosas garantidas pelo petismo que urdiu o mensalão, mergulha com avidez em fatos reais e imaginários. Ele está no sal. A vingança foi cuidadosamente armazenada no freezer.
          É de interesse de certa patota triturar sua imagem para que ninguém mais seja besta de acusar bandalheiras. O jurista experiente era um calo a ser retirado. Sem ele o submundo em Brasília respira ares mais arejados. Esse estilo de pentelho é um pé no saco para atividades lucrativas que devem ser realizadas com o tempero dos conchavos. Eu lamento que o Senador tenha errado. Se for cuspido fora do congresso vai fazer uma bruta falta. Ao se recolher envergonhado, sem a energia que lhe pautou a carreira, faz a alegria dos que chafurdam no lucro fácil à custa do contribuinte.
         Os apressados vão deduzir que sou contra uma punição justa aos seus deslizes. Bobagem, sou a favor de passar o Brasil inteiro a limpo. Urge virar os congressistas do avesso. Todos eles sem exceção. Alguém duvida, no comparativo, que os pecados de Demóstenes seriam nivelados a contravenções de trânsito? Eu não! Na balança de prós e contras, e notem que esse não é um bom momento para dizer isso, a minha análise ainda pesa a favor de Demóstenes Torres. Que Deus o abençoe pelo que conseguiu fazer e seja capaz de perdoar seus pecados.
         Quanto a Carlinhos Cachoeira, enquanto estiver preso só vai levar bordoada. Ao sair, discreta romaria vai se derreter em afagos jurando que estava torcendo por ele. No momento, a maior torcida é que ele abra a boca só para comer.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

2 Comentários

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  • Rosenwal,
    Sem dúvidas, seu artigo deve merecer a reflexão de todos que se locupletaram, ou ainda se locupletam, da rede mafiosa presidida por Carlinhos Cachoeira. Informações que nos chegam pela mídia, e até pelo cinema, deixa claro que existe uma conduta a ser seguida nesse mundo cão. Pactos são tacitamente firmados, e a quebra desses acordos tem consequências nefastas. O “Professor”, ainda que involuntariamente, terá uma grande oportunidade de saber quem é seu amigo e quem são os aproveitadores. Eu torço para que ele tenha muitas decepções com aqueles que ele julgava seus amigos, especialmente os maiores detentores de poder. Quanto ao Demóstenes, infelizmente, entendo que ele foi forjado na mentira. Como um pregador de araque, cumpriu seu papel de “homem de Deus”, acima de qualquer suspeita e, por muito tempo, trouxe regozijo aos sedentos da justiça dos homens. Muitas vezes lavou nossa honra, enfrentando corruptos contumazes, muito embora fosse um deles. Como um advogado que nunca foi à escola, patrocinou, com denodo, a nossa causa perante os ímpios do congresso. Mas aí descobriram que ele era uma farsa, que era um pregador que servia ao diabo e não a Deus, que não tinha “prontuário” pra ir aos autos. Destarte, nós, o povo, estávamos, o tempo todo, sós. Muito embora, acreditando numa farsa, tinhamos a alma lavada. Demóstenes foi o nosso placebo. Como tal, depois de descoberto, não faz mais nenhum sentido. Lamentável. Abços. @Regesmaia

  • Até o presente foi as palavras mais sábias que já ouvi sobre o caso Demostenes. Parabéns, continui com essa seriedade e transparência, o que disse é a mais pura verdade.