Açoitado por aumentos que drenam recursos de salários que mal sustentam o cotidiano, o trabalhador brasileiro está atento a qualquer acréscimo que pesa no bolso. O prefeito Iris Rezende sentiu o forte bafo da irritação popular, na tentativa de emplacar a exigência de coleta de lixo com ônus aos moradores de condomínios verticais. Foi uma gritaria dos diabos. Até vereadores da base aliada pularam fora do barco capaz de naufragar votos.
Veterano de incontáveis mutirões, Iris recuou da proposta com a rapidez de um jovem corredor. Ele sabe, porque já enfrentou estradas semelhantes, que nada adianta acelerar jipe no atoleiro. Mesmo com tração 4X4 e disposto a enfrentar desgaste em prol de recursos, não dá para enfrentar rebeliões na Câmara, OAB, Ministério Público e insatisfação coletiva, puxando a corda isolada no paço municipal.
Entretanto, num tópico do mesmo balaio, manteve a exigência para condomínios horizontais fechados. Em minha análise é um erro, uma injustiça aos moradores desse estilo de quadrilátero. Por razões que misturam ignorância e ausência de análise prática, existe a falsa impressão de que todos os moradores desse estilo de vizinhança são ricos. A premissa tem base em dados falsos.
Na verdade, são poucos os espaços dignos dos milionários. Boa parte dos moradores, nessa definição de residência, representam batalhadores da classe média que suaram bicas para, ao longo de anos investindo todas as economias da família, adquirir um local mais seguro para viver. Alguns, simples na estrutura e nas residências, alojam pessoas humildes que sobrevivem com salário apertado.
É uma falácia da imaginação popular eleger os condomínios fechados, na primariedade preto no branco, como elite econômica que merece ser castigada sem piedade. Na prática, esses locais existem porque o poder público não cumpre boa parte de suas funções básicas.
Tanto empresários quanto investidores na modalidade, arcam com todas as despesas de estrutura que, fosse o contrário, seriam de responsabilidade da prefeitura. Os muros, a segurança privada, a limpeza, a preservação da natureza e outras benfeitorias, são executadas para suprir o que não seria oferecido pela administração da coisa pública. Fosse justo, ao invés de acréscimo de impostos, teriam redução.
Se for para chafurdar no lixo à procura de soluções, por que a prefeitura não cria, por exemplo, usinas de processamento de gasolina e gás à partir do lixo? Já existem projetos prontos, e disponíveis, com cidades que se tornaram autossuficientes com essa alternativa. Existem outras que utilizam o lixo como fonte de renda. Dá trabalho? Demora? Claro que sim! Mas representam soluções duradouras. O caminho fácil, que se procura sempre porque ninguém gosta de planejamento sequer em médio prazo, é ir direto ao bolso do cidadão. Passa a grana! A carteira e o relógio também! Rápido! E não me encara!
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