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A arte de apagar fogo com gasolina

Na ausência de uma alternativa capaz de me convencer, sou um ardoroso defensor do sistema capitalista. Sendo assim, eu deveria manter coerência e resignar com os recentes aumentos de gasolina nos postos da capital. Na lógica do mercado, os proprietários possuem o sagrado direito de vender o produto até por cem reais o litro se lhes der na telha. Certo? Nem tanto.

Até o mais liberal dos países entende que a liberdade comercial deve obedecer a certas regras. Uma delas se atrela ao monopólio de preços, o famoso alinhamento, nocivo à comunidade. Parece-me claro, numa chocante realidade factual, que essa danosa prática foi orquestrada em Goiânia. O consumidor amargou, da noite para o dia, um acréscimo generalizado, sem motivo justificável, numa visível manobra para aumentar lucros em detrimento de uma concorrência saudável.

Ressalta-se que o movimento ocorreu apenas na praça de Goiás, sem nenhum parâmetro em outras capitais, num momento em que as famílias sofrem com reajustes que minam o orçamento. A zelosa juíza Zilmene Gomide constatou a flagrante irregularidade, juntou-se ao Procon e ordenou o óbvio: obrigou os postos a recuarem no reajuste que não fazia senso em nenhuma das equações analisadas, principalmente considerando que não existiu acréscimo ao adquirir o produto nas refinarias. Foi um alívio perceber que a  justiça atendeu a chiadeira coletiva.

Eis que no imbróglio nos aparece o digno Desembargador Olavo Junqueira cassando a liminar da juíza. Em outras palavras: liberal para continuar com uma elevação que chegou a ultrapassar 50%. Informa-se que ele ainda não fez o julgamento do mérito. Que bom. O ato de apagar fogo com gasolina parece ter remédio. Ou não? Resta esperar.

Muitos indagam se o douto especialista é dos que se locomovem de bicicleta ou não tem que se preocupar com despesas para encher o tanque. Caso contrário, teria percebido facilmente que sua colega Zilmene está certa. Muito difícil acreditar, a não ser na remota hipótese em que  todos frequentaram a mesma festa que serviu feijoada estragada, que centenas de empresários tiveram o idêntico  sonho indicando valores a serem ajustados no dia seguinte.

Sobre o Autor

Rosenwal Ferreira

Rosenwal Ferreira é jornalista, publicitário e terapeuta transpessoal. Multimídia talentoso, ele atua na TV Record realizando comentários no quadro 'Olho no Olho', no Balanço Geral. Mantém, há mais de 18 anos, o programa 'Opinião em Debate' que agora está na PUC TV. No meio impresso, é articulista no Diário da Manhã, e no Jornal OHoje.
Radialista de carteirinha, comanda o tradicional programa jornalístico 'Opinião em Debate', que já ocupou o horário nobre em diversas emissoras, e hoje, está na nacionalmente conhecida Rede Bandeirantes 820AM, de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 08h30 da manhã. Logo após é membro da bancada mais ativista da felicidade, das 8h30 até às 10h da manhã, na Jovem Pan Goiânia 106,7FM.

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