Com pequenas diferenças e introduções, uma conhecida fábula narra o seguinte: Consta que, certo dia numa cidade indiana, aportou um comerciante montado num enorme elefante. Alguns cegos que residiam no vilarejo, e que nunca tinham tocado nesse animal, correram para a rua ao encontro dele. O primeiro apalpou a barriga e declarou:
– Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar nos seus músculos e eles não se movem, parecem parede.
– Que palermice! – disse o segundo tocando nas presas do elefante. – Este animal é pontiagudo como uma lança, uma arma de guerra.
– Ambos se enganam! – retorquiu o terceiro que apertava a tromba do elefante. – Ele é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia.
– Vocês estão totalmente alucinados! – gritou o quinto que mexia nas orelhas do elefante. – Este animal não se parece com nenhum outro. Os seus movimentos são bamboleantes, como se o seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante.
– Vejam só! Todos vocês, mas todos mesmos, estão completamente errados! – irritou-se o sexto tocando a pequena cauda do elefante. – Este animal é como uma rocha com uma corda presa no corpo. Posso até pendurar-me nele.
E assim ficaram horas debatendo aos gritos. Até que o sétimo cego, que habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança. Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:
– É assim que os homens se comportam perante a verdade. Pegam apenas numa parte, pensam que é o todo, e continuam tolos!
Sempre que lhe interessa, principalmente em regiões em que espertos com apenas um olho se tornam reis do pedaço frente à cegueira coletiva, Lula utiliza a descrição do elefante que mais se ajusta à sua gana de voltar ao trono da presidência. Recentemente, num desses arroubos com tempero da hipocrisia, afirmou sem escrúpulos que “Dilma traiu os eleitores.”
Falou do rabo e esqueceu, de propósito, o paquiderme inteiro. Santo horror! Só descobriu isso agora? Não sabia? Não viu nada, e jamais participou de coisa alguma? Quem enxerga um mero palmo adiante do nariz sabe que não é verdade. Lula foi artífice de um projeto mentiroso até os ossos e foi com ele, e por ele, que o Brasil se meteu num atoleiro dos diabos.
Só que Luis Inácio segue fiel ao seu estilo. Não importa os companheiros que joga nas masmorras, no gueto do ostracismo ou cospe como se fosse caroço de jabuticaba, o que vale é o que lhe unta o umbigo.
Para atingir seus objetivos o homem vira jararaca, rocha, cortina, tigre ou encarna o capeta. Para quem carrega no córtex da alma o sofrimento, assassinato, tortura e cadeia de milhões de venezuelanos, detalhes é troco. Verdade para Lula? Esse é apenas um exercício de cegos decifrando elefante.
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