Se existe uma figura que incorpora a síndrome de semideus que afeta alguns Ministros do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes é o amálgama perfeito. Ele não tem papas na língua, utiliza metralhadora verbal contra quem bem entende, faz o que lhe dá na telha e, para ele, liturgia do cargo é apenas uma “psicose da imprensa”.
Recentemente ele afirmou, com todas as letras e sem margem para interpretações com válvula de escape, que considerava “Janot o procurador mais desqualificado que já passou pela história da Procuradoria e que ele não tem condições, não tem preparo jurídico nem emocional para dirigir um órgão dessa importância.”
É uma análise, como nunca se viu antes, partindo de um Ministro do STF. Sendo verdade, é de se concluir que os atos de uma pessoa tão “insana”, podem ser questionados, colocando suas ações sob um terrível manto de suspeição. Fato gravíssimo, principalmente quando Janot se prestou a ajuizar uma delação premiada, a famosa envolvendo o corruptor mor Joesley Batista, que arrasta investigações de milhares de autoridades do primeiro escalão do governo.
Sendo uma incriminação leviana, com propósitos umbilicais, urge uma medida capaz de conter os arroubos de Gilmar no juízo de autoridade importante, ator no difícil equilíbrio democrático. A nação, indefesa e estupefata, se enrasca numa dúvida cruel. É uma sinuca de bico. Será que os mecanismos de controle não foram suficientes para impedir a diplomação de um “desqualificado”?
Por outro lado, um Ministro do STF pode fazer tal juízo de valor sem provas, consistência e comprovação? Estando ele certo ou errado, não implica nenhuma investigação? Afinal de contas o imbróglio não envolve análises de leigos da imprensa, do homem comum ou de quem não possui amplos conhecimentos à luz do Direito. Trata-se do exame de um especialista veterano.
Como não somos, ainda, uma Venezuela, urge que o assunto seja esclarecido para salvar a legitimidade dos poderes. É muito simples dizer que a imprensa atua em nível de perturbações mentais, “psicose”, enxergando complôs inexistentes quando Gilmar se reúne com figuras ícones que deverá julgar. Pode até ser. Mas por que só Gilmar faz isso com tanta frequência? Que diferença ele tem em relação aos seus pares? Timidez excessiva deles? Desnecessário recato? Deve ser. Eu é que sou neurótico!
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